O período de crise pode dar a ilusão de que todos, independentemente do seu estatuto, vão sofrer. Porém se há algo que as mais recentes crises comprovaram é que para os bilionários esse não é o caso. De acordo com o estudo do Institute for Policy Studies, ao mesmo tempo que 22 milhões de americanos perderam o emprego, a riqueza dos bilionários entre 18 de março a 10 de abril aumentou 282 mil milhões de dólares, um aumento de cerca de 10%. Porém este aumento de riqueza parece não abrandar e as últimas projeções pelo mesmo instituto indicam que a fortuna tenha aumentado outros 250 mil milhões. Apesar de tudo é algo inédito o que se está a verificar. Durante a crise de financeira de 2008, os grandes milionários não ganharam tão cedo. Comparativamente com o período pré crise, demorou três anos a que pudessem retomar a fortuna pré crise e durou uma década para que as fortunas tenham aumentado 80%.
A grande questão que se coloca é o que há de diferente nesta crise? A resposta tem a ver com a transformação tecnológica. Os grandes milionários que têm beneficiado com a crise são os donos de empresas de alta tecnologia. O CEO da Zoom Eric Yuan e o ex CEO da Microsoft Steve Ballmer que detêm a plataforma Skype e teams são dos que viram a sua fortuna aumentar por razões óbvias. Porém, os beneficiados estendem-se a outros ramos da alta tecnologia como o Jeff Bezos ou o Elon Musk. Isto pode funcionar como prova de que a covid-19 está forçar o processo de automação e de mudança tecnológica. Esta nova crise vai fazer com que os empregos sejam menos necessários e que a economia funcione para cada vez menos pessoas.
Esta questão também vai ao encontro da almofada tributária que tem vindo a ser feita especialmente nos Estados Unidos mas também um pouco por todo o mundo. De acordo com mesmo instituto os bilionários de 2018 pagaram menos 79% de impostos do que os bilionários de 1980. O problema da tributação é cada vez mais um problema mais sério. Um grupo de 83 milionários, maioritariamente americanos mas não só, com o slogan “Millionaires For Humanity”, juntaram-se neste tempo de pandemia para pedir mais impostos nos mais ricos. Afirmam que a recuperação da crise não pode ser feita apenas através de caridade. É necessário cooperação e que todos os indivíduos da sociedade contribuam para a recuperação, especialmente aqueles que mais têm beneficiado. Este movimento está a tentar persuadir os lawmakers americanos para que ajam nesse sentido, porém não parece estar a ter grande efeito.
A grande conclusão que se pode tirar é que a sociedade está a assistir a uma aceleração da transformação económica como nunca antes vimos. A automação cada vez mais assusta os cidadãos comuns e a economia veículo de elevador social e de oportunidades parece cada vez estar mais parada. A segregação da sociedade entre os mais ricos e os mais pobres vai continuar a aumentar. É necessário que seja feita alguma coisa, não só a nível nacional, mas sobretudo a nível internacional. A covid-19 é um problema global, temos que começar a olhar para a desigualdade da mesma forma.
Imagem: Greanville Post